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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Nem tudo é plausível

30/7/2019 - Votorantim - SP

Nem tudo é plausível. Nem tudo é preto no branco e nem todas as poesias são rimas. Nem todas as conversas são com palavras e nem todas as palavras se conversam. Nem todos os vazios são nadas e nem todos os significados são repletos de sentido. Há vezes em que nem todos os corpos que se conhecem de perto possuem intimidade, até mesmo porque nem toda a intimidade imprescinde de corpos.

Nem todos os caminhos são encontros, e os encontros, por si só, podem criar seus próprios descaminhos. As redomas são enrijecidas de verbo quando entendemos que o permeável é só uma questão de se dispor. Nem sempre fui afeita às previsões do óbvio, mas é preciso admitir que o óbvio tem vindo, sobretudo, pelos mistérios de não ser, desde o início, tão escancarado assim.

É que, a rigor, a liberdade caça um jeito de ser. Nem que seja pela teimosia de se reencontrar a cada casulo em que se entende ser impossível de se preencher. Nem sempre vale a pena esperar pelos lugares e pelas pessoas - e isso só é possível compreender quando vislumbramos a atmosfera dos infinitos que circundam os limites dos espaços que achamos que são os únicos que podemos ocupar.

Houve uma época em que minhas experiências significavam tenuidade. Um mar de expectativas em relação aos pensamentos aquiescentes da minha postura. Não há, na verdade, nenhum comportamento imperceptível à sensibilidade de quem está disposto a enxergar. Os olhos afrontosos do ângulo que mais gostei até hoje falam exatamente das partituras desse excesso de esperança ressignificada. Trata-se do momento em que explodimos para as potências latejantes dentro do peito e na palma das mãos, amalgamadas pela ansiedade de ir ao encontro do que, a todo o momento, está acontecendo sem que percebamos. A atenção desperta os significados e as importâncias todas, e não o contrário.

É por meio de uma calmaria insolúvel que as águas se acostumam de, na mais profunda das emoções, premeditar as necessidades de não ser mais nada para poder ser tudo o que se quer. Não é um problema amanhecer em silêncio e se manter em contato apenas com as próprias histórias durante as horas que se estendem pelos domingos afora. São esses bairros de lembranças perdidas que rejuvenescem nossas memórias de querer tudo o que somos capazes de desejar. De cumprir. De acumular em despreparo e aprendizado.  

São nos intervalos que rejuvenescemos as memórias, compreendendo que do outro nasce sempre um novo tempo. Uma nova forma de sentir o barulho dos gritos velados de toda a adrenalina guardada pelo dia que esperamos acontecer. No som escondido dos olhos que nos veem, é como se o tempo perdesse o equilíbrio da própria passagem. Não há porque tecer redes que amarram sem conectar. Pelo balanço das frequências é que se torna possível acreditar em tudo o que ainda se tem por viver. E viver nos entrepontos é como apenas observar o relógio rodar enquanto as coisas acontecem.

 

THIANE ÁVILA.

 

 

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