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Flaviana Souza

Autor: Flaviana Souza

Melhor filme para entender inovação: O menino que descobriu o vento

19/3/2019 - Votorantim - SP

  

ALERTA DE SPOILER (MUITO MESMO)

 

 Uhuuu, neste texto vou unir duas coisas que amo: cultura e inovação. Confesso que sou mais adepta a séries e documentários, raramente assisto a filmes, mas me rendi ao “O menino que descobriu o vento” esse fim de semana. Que filme! 

Fala de inovação do início ao fim. Vou tentar transcrever os pontos mais relevantes e possivelmente deixarei outros tantos de fora. É importante alertar que não seguirei a ordem cronológica do filme, pois optei por colocar a narrativa sobre inovação em primeiro lugar. 

O filme retrata a história real de William Kamkwamba, interpretado por Maxwell Simba, um garoto autodidata, muito inteligente, que descobriu uma forma de produzir energia eólica no solo árido de Malawi. Com isso, garantiu a irrigação das lavouras e, consequentemente, a sobrevivência da população que vinha sofrendo com a escassez de alimentos. Críticos destacaram que o longa colocou em destaque a discussão sobre a importância de estudos sobre ecologia, políticas humanitárias e senso de comunidade, mas eu percebo a inovação antecedendo todos esses fatos.

Vamos lá! A OCDE (Organization for Economic Co-operation and Development) desenvolveu as chamadas competências para inovar sendo elas: (1) iteração, (2) curiosidade, (3) foco no usuário, (4) alfabetização em dados, (5) narrativa e (6) insurgência. Essas competências podem ser adquiridas ao longo do tempo, mas Kamkwamba já as tinha desde pequeno e podemos observá-las durante o filme. Vou apontá-las conforme aparecem na narrativa.

Todo processo de inovação começa pela definição do desafio (problema). Com muita observação, curiosidade e ações de insurgência (rebeldia), Kamkwamba, aos 11 anos, percebe que sua aldeia sofre com a pobreza do solo e a escassez de água durante boa parte do ano.  Logo no início do longa, tem-se a identificação do desafio: Como potencializar a capacidade de produção das terras durante o ano todo?

O jovem consegue frequentar a escola por cerca de um mês e nesse período se interessa muito por ciências. A ligação com a disciplina é observada já na sua vida cotidiana. Sua curiosidade pode ser observada na aldeia onde é referência no conserto de aparelhos eletrônicos.

Devido a falta de pagamento das mensalidades, Kamkwamba é afastado da escola e, utilizando de bom storytelling (narrativa), ele convence seu professor, que por sua vez convence a bibliotecária a permitir que ele, ao menos, frequentasse a biblioteca.

Kamkwamba observa (curiosidade) a lanterna da bicicleta do professor que acende sem a necessidade de bateria. Interessa-se por essa nova forma de criar energia e se mune de conhecimento. Utiliza as informações que já tem e o que descobre nos livros (alfabetização de dados). Faz benchmarking (processo de comparação de produtos, serviços e práticas) estudando o que é feito na América para solucionar problemas de energia e descobre a energia eólica.

Quando se fala em inovar, fala-se em testar “pequeno” para que o erro seja menor em custo e tempo. O garoto cria protótipos testa suas ideias na biblioteca e com amigos que são convencidos (storytelling) a colaborar mesmo fracos de fome. Trabalho colaborativo também é parte da inovação e está presente no filme.

Assim como com o professor, Kamkwamba abusa de seu poder de storytelling para convencer seus demais stakeholders (pessoa ou grupo que tem interesse em uma empresa, negócio ou produto - pode haver investimento ou não): o diretor da escola, que precisa liberar seu regresso à biblioteca, e seu pai, de quem necessita de um investimento de capital, a sua única bicicleta. O convencimento não é fácil e torna a aparecer a insurgência.

As cenas que deixam mais claro o foco no usuário (criar a partir da percepção de quem sofre as dores), nas quais percebemos que Kamkwamba está desenvolvendo um produto de inovação social (inovação voltada para resolução de problemas de cunho social) de forma mais que empática, já que ele é um usuário direto de sua produção, são as cenas de morte (inclusive do cachorro =/). Considerei as cenas sobre o ritual de morte lindíssimas e emocionantes, pois, retratam aspectos culturais, e reflexões sobre cultura são outra paixão minha.

Chegando ao final, após o convencimento do pai, Kamkwamba tem a ajuda de toda a comunidade (colaboração) para a criação de um gerador eólico que será responsável por produzir a energia necessária para que a bomba bombeie a água que irrigará a plantação.

Conforme já alertado no início, apresentei apenas os principais pontos que conversam com o processo de inovação, mas ainda há muitos a serem observados. Assistam ao filme e façam as associações com o ambiente da inovação. E se você já assistiu, sugiro que assista outra vez, considerando esse novo ponto de vista. O filme está disponível no Netflix. Bom filme! Super indico. 

EXTRA: há algumas críticas ao fato de o garoto ser utilizado para representar a importância das escolas, da união, da luta contra as opressões, do respeito ao próximo etc e acaba não representando a si mesmo. O Adoro Cinema, por exemplo, colocou que o menino “é instrumentalizado para caber dentro do formato narrativo e moral de uma fábula. (...)  Por esta razão, a história transforma-se num grande tratado.” Acredito ser uma crítica pertinente, mas que não modifica o fato de, talvez sem querer, o filme traduzir a inovação na sua forma mais pura e descompromissada.

 

 

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