ColunistasCOLUNISTAS

Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Sê gentil

2/1/2019 - Votorantim - SP

No momento da virada, só me fiz agradecer. Pelas dores, pelos anseios e pelas incompreensões. A gentileza pela dor do outro é a profundeza mais profunda que podemos nos arriscar a penetrar. Não me dou ao luxo de julgar as reações, pois não conheço, de todo, a protagonista de suas vivências. Talvez, para o ano que se inicia, o principal desafio esteja situado na admissão sobre o não entendido. Na leveza sobre o não encontrado. Tudo bem não entender, desde que se respeite o não compreendido.

A gentileza sobre o desconhecido se situa no exercício de não julgar intensa demais a dor que não nos pertence. Não pegar para si os traumas que não vivemos e, sobretudo, continuar amando as experiências que não participamos. Amar alguém, para mim, significa abdicar da integralidade do vivido. De nada me interessa a integridade dos traumas, pois eles jamais serão meus. A linha tênue que divide a tolerância da submissão reside justamente na maturidade sobre a habilidade de discernir as responsabilidades contratuais. Não tenho compromisso sobre o que não me propus, ainda que tenha amor sobre o que não me reveste.

As mazelas sociais talvez incidam, de fato, nas arrogâncias sobre o entendimento. Para esse novo ciclo, peço aos orixás a leveza de tirar dos ombros as exigências a que não submeti meus indossos, mantendo a capacidade genuína de amar os defeitos de quem me tem. Não economizarei amores nesse novo ciclo. Pelo contrário, reconheço o tempo limitado das vivências que me subjugam e, por isso, estabeleço a rebeldia de amar até o último fio de cabelo que não tenho. Me declararei mais, pois.

Aos passos indigestos dos atos que não entendo, abençoarei com as boas energias a compreensão do que não precisa ser visto. A remissão sobre a consciência que pretendo adquirir sobre mim mesma. A eles e a elas, o olhar terno de quem oferece apenas aquilo que tem. Que eu tenha, pois, a capacidade do olhar tolerante aos passos fora do meu trilho. De longe, tudo é estranho. De perto, apenas uma semelhança destoante do resto. Sejamos um pouco do outro.

 

THIANE ÁVILA.

 

 

Compartilhe no Whatsapp