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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Traços de Iansã

25/12/2018 - Votorantim - SP

Cânones majestosos de pureza e impulsividade. Às que levam a vida com os momentos à beira das estradas, desbravando as experiências com a teimosia sobre os próprios princípios. Com o tempo, percebi que a maioria das pessoas fala para escutar e, escutando, acreditam: eis o porquê de as maiores mentiras serem públicas. Cientes de sermos o maior drama de nossas vidas, rogo a importância de olhar para dentro para perceber que lá está o lado bom e o lado ruim de tudo.

Não sabemos nos encaixar simplesmente porque ninguém mais se encaixa. A crise identitária atinge os transtornados e os traçados, os tranquilos e os estressados. Somos matéria líquida com vontades de para sempre, nada além de confusões que sabem exatamente onde não estão pisando e decidem, mesmo assim, ir além. O risco é a necessidade que faz palpitar, tal como a dor e o sofrimento, que nos impele às próximas etapas. O grande mal, contudo, está no paradoxo ainda insolúvel sobre querer ser no outro, encontrar na resiliência acompanhada o único sentir para silenciar. 

Quem nasce à luz da manhã pode ter seu ritmo incompreendido. Sua entidade dominante que incomoda, e suas razões, sempre bem estabelecidas, motivo de marca boa ou ruim. Filhas de Iansã são o ponto certo para os que procuram bons ouvidos, mas também as verdades duras de quem não pretende ouvir. A paz da piedade e a imponência da liderança. É que, no fundo, nós sabemos que a engrenagem é preparada para as diferenças preestabelecidas. Ainda estaremos no esquema se escolhermos qualquer uma das opções estampadas. O que incomoda, e que demorei a me dar conta, é que existe um acervo oculto e proibido cuja escolha, uma vez feita, resulta em punição – e das mais severas.

A maturidade vem acompanhada da hipocrisia, pois, ao mesmo tempo em que vamos adquirindo a noção sobre o tempo escasso, ampliamos a ânsia pelas promessas sobre o eterno. Sobre o que não existe e nem nunca existirá. Somos marionetes fantasiadas de independência, colocadas no ringue para tirar das prateleiras, a preço simbólico, o que demoramos uma vida para construir. Canonizamos a morte como tentativa de remissão. Amaldiçoamos os vícios mesmo sabendo que acabaremos com um ou mais deles. Entorpecentes de qualquer espécie: salvaguardas da nação.

Toda a roupagem guardada para as noites de gala recebe nova adoração à medida que rejeitamos as velhas ambições para o fortalecimento da própria ansiedade. Os fatos não mudam, mas as mentes recebem novas ofertas de manipulação. Houve o tempo dos narcóticos e dos supérfluos. A velocidade das mudanças não acompanha nossas premedições internas. Vivemos em um ciclo interminável de coisas que terminam sem percebermos. Acontece que a época é propícia ao crescimento do ego. Não há mais culpados ou vítimas, mas contextos que nos colocam, vez que outra, em alguma dessas posições.

 

THIANE ÁVILA.

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