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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Evite abraços apertados e conexões mais densas

12/12/2018 - Votorantim - SP

Postergue sentimentos. Boicote sensações. Deixe pra depois as eternidades. Viva o momento e refaça as saídas sem destino como destinos fadados. Recrie alegorias. Abandone as saudades. Curve-se às brevidades e renasça a cada lacuna. Lateje pelo ócio, resplandeça a solidão e inaugure, a cada encontro fugaz, a finitude de tudo o que se dispõe ao início do fim.

Brilhe com prazo. Converse com hora marcada e preste atenção nas conexões rápidas que surtam interesse. Não se demore a olhares profundos. Afirme, nas despedidas, a incerteza do próximo encontro. Poupe-se das demoras e comemore as mesas divididas. Não negue pretextos e, ao menor sinal, fuja dos riscos. Não ameace as sensações controladas, evitando o início de qualquer coisa que possa fugir do tempo previsto das noites.

Seja efemeridade nos tempos que já são líquidos. Não ande na contramão. É arriscado demais parar nas sinaleiras. A noite ensina a olhar para os lados e burlar as regras. Passe quando o sinal estiver amarelo e, de preferência, não olhe para quem ficou para trás. Garanta sua paz. Chegue em casa e deite na cama que é só sua.

Quando amanhecer, siga sua rotina e não mande mensagens. Procure esquecer os encontros e, sem pestanejar, planeje os próximos copos. Esqueça as mãos que os seguram e, como num piscar de olhos, almeje apenas a próxima cerveja, acompanhada de risadas cúmplices e paixões de prazo definido. Olhe para as pernas debaixo da mesa e escreva bilhetes à moda antiga. Não inclua promessas longas, mas convide para mais uma rodada, lembrando que, depois dela, cada um seguirá o seu caminho.

Invista em pequenos enlaces, prometendo a si mesmo a paz que somente a solidão da noite propicia. Divida a bebida apenas com quem beba com você, evitando más interpretações a quem possa imaginar que você pretenda uma bebida fora dali. Dê as mãos à lua e faça promessas sobre sua próxima excursão de verão. Não convide ninguém que possa querer cuidar de você, pois isso pode ferir sua solidão.

Quando sair de casa, lembre-se de manter o peito fechado e as respostas sempre prontas. Não arrisque perder a razão. Tenha convicção sobre a credibilidade das suas verdades. Viva os inícios como meros anseios corpóreos de qualquer coisa inteligível a ninguém. Mantenha a razão. Ao final, deite com você mesmo e aproveite. Sem profundidade, reafirme a facilidade dos tempos líquidos. Quando amanhecer, não pense sobre o que aconteceu. O risco de quem se perde dentro de si pode ser insuportável. Poupe-se. Viva. Subviva. Acredite nos meios. Ao final, tome uma cerveja desacompanhado e reflita. Por isso, aconselho: não dê abraços apertados e nem estabeleça conexões densas. Isso pode frustrar sua zona de conforto.

 

THIANE ÁVILA.

 

 

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