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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

A gente se encontra em outro carnaval

19/2/2018 - Votorantim - SP

Sempre busquei contextos. Sempre fui contextual. Sempre planejei cada detalhe até planejar um carnaval. As certezas desmoronam, e as dúvidas vêm como tiros agressivos. Intempestividade e alto grau de anacronismo, agora vejo que a festa é como um relacionamento progressivo. A folia tempera a emoção como a bebida que entra para encorajar. Não medimos o tempo do efeito e da ilusão, mas é certo que, depois de algum tempo, tudo aquilo irá passar.

A brevidade desses instantes é uma metáfora das expectativas. Já conversei com o sentimento para parar de ser trouxa: aprender também a ter malícia. Os encontros, hoje sei, são deslizes das passagens. Somos confusões de roteiros que se cruzam, embora alguns só se esbarrem na síntese da falta de coragem.

Escrever em cima de um trio é o cúmulo da insensatez. Estou agora em cima de um, transtornada pelo receio de quem consegue me ver. O entorpecente da espera é como esse balanço sutil que quem está lá embaixo não percebe. Os bastidores são como todos os dias: colocamos pra fora apenas o que não nos compromete. De egoísmo em egoísmo, selecionamos as pessoas e recordamos para não deixar de viver. No bar da esquina, na rua ou pela vida, viramos o resumo das histórias que consolidamos ao registrar, de qualquer maneira, um modo particular de pertencer.

O som molha os olhos ao acessar instintivamente carnavais passados. É por isso que agora estou convencida sobre a fugacidade de um sentimento fraco. Vejo gente certa de tudo, mas certa em quase nada. Quem se preocupa em estar por cima, mas que não assume a responsabilidade sobre nada que fuja da sua posição inabalada. Enquanto isso, eu aqui me perdendo em dúvidas e querendo arriscar de tudo um pouco. Às vezes suicida pela quantidade de energia. A gente às vezes se sabota quando se submete à apneia sentimental que não corresponde à do outro.

Sigo errando muito, me dando por conta e pedindo desculpa. Recalculando a rota, mudando minhas certezas e me esvaziando, a cada recomeço, daquilo que a maturidade ensina. Com menos impulsividade e mais sangue frio, reorganizo minha bagagem com o timming errado que me é de praxe. A diferença é que a visão está aprendendo a caminhar: já identifica no corte o controle sobre as próprias vontades.

Uma música me separa desse texto e das milhares de pessoas que gritam na plateia. Uma silhueta, um pulso e a constatação de que é sempre tempo de mudar de ideia. O controle sobre o sentimento nunca foi nem nunca será o meu forte. Ainda escolho os piores momentos para escrever sobre meus bastidores: uma especialista em deixar todas as pistas para o autossabote. Mas não é sobre tristeza, desencontro ou qualquer coisa de mal. Independente de onde estejamos amanhã ou depois, o meu coração ainda bate igual, e a gente sempre se encontra em outro carnaval.

 

THIANE ÁVILA.

 

 

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