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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Talvez seja por aí

1/12/2017 - Votorantim - SP

Não sei você, mas eu não sou de retrospectivas. Sou de iniciativas. Sempre achei que o longo prazo do passado é uma desculpa para ficar. Eu quase nunca fico, a não ser que valha muito a pena. Tenho pressa de viver e a correria dos meus dias tumultua minha cabeça de planos e liberdade. Liberdade. Vivo com a vontade de não parar, com a pressão interna de fazer tudo por mim. Faço muito pelos outros. Sou uma apaixonada de carteirinha, com uma perna mergulhada na areia movediça dos laços, mas com a mão treinada para o adeus. Talvez sejamos a geração do adeus.

Quando penso em retrospectiva, costumo arrepender-me do tempo que despendi com meus enganos. Ainda que ciente sobre o quanto crescida e madura venho ficando decepção pós decepção, ainda assim lamento por alguns encontros. Talvez, nesse momento, não goste muito de retrospectivas porque algo ainda dói aqui dentro. Atrevo arriscar um palpite sobre esse ano: não foi fácil para ninguém. Vivemos tempos difíceis na política, nas famílias, nas relações. Dezembro chegou e, na teimosia da retrospectiva que tem como sobrenome, não posso deixar de pensar nos milhares de pedaços que já juntei de mim e de tanta gente pelos cantos.

Os dias trouxeram dores que não vão passar e perdas irreparáveis. Entrei na vida de pessoas por motivos que ainda não entendo, mas fico feliz por ter conseguido fazer a minha parte - mesmo que não tenha sido esse o meu plano inicial. Mesmo que, mais uma vez, eu tenha precisado abrir mão do que eu sentia para sustentar. Para apoiar. Minha liberdade passa por essas escolhas também. Não poucas vezes escolho me machucar - mas isso é problema meu. Felicidade talvez seja também uma ressignificação da tristeza. Um novo prisma para os pesares e um otimismo teimoso frente ao futuro. Ciclos se fecham e se abrem o tempo inteiro. Somos um micro-ciclo no cosmos. De poeira em poeira, formamos toda essa massa espacial amorfa e sem sentido, ainda que nos sintamos os donos do campinho.

Escrevi demais esse ano. Manifestei demais. Problematizei demais. Talvez tenha sido o ano mais intenso dos últimos tempos, em que assumi absolutamente tudo que quis, mesmo que o dia não tivesse horas o suficiente para tanta coisa. Não deixei de sair - inclusive, bebi mais. Dancei mais. Namorei mais. Me apaixonei mais. Estudei mais. Ano de acréscimos, de descobertas, de decepções e de tentativas. Muitas tentativas. Aprendi que o não é inerente à existência e, por isso, não deixei sequer uma oportunidade de dizer o que queria. De tentar a pessoa que eu queria. Se tudo foi bem sucedido? Não. Talvez as pessoas que eu mais tenha querido, inclusive, tenham sido aquelas que não me responderam com reciprocidade. Se estou mal? De jeito nenhum. Entender que às vezes é preciso ouvir ‘não’ é ainda mais lindo do que insistir pelo sim. Há vezes em que a alternativa é mudar a direção. Novas lentes, sabe? Os novos ciclos têm disso.

Dezembro se iniciou e, paradoxalmente, no primeiro dia do último mês do ano, comecei as iniciativas contrárias à retrospectiva ao olhar para trás. E isso, ouso dizer, foi o mais encantador desse ano: mudei de ideia muitas vezes. A cada linha escrita nesse texto, lembrei de amores, planejei novos laços, submeti velhas experiências a novas posturas. A retrospectiva, então, talvez seja apenas o mundo invertido do avanço. Um sinônimo para aprendizagem, uma metáfora para divertir-se com os erros. Talvez seja por aí.

Quero dizer a ti que me lê agora que use todas essas lágrimas guardadas ou despejadas como combustível e como um convite à clareza, ao novo olhar. Que elas possam tirar da frente dos teus olhos tudo o que te impede de ver o tanto de perspectiva logo em frente. O final de um ano não significa mudança, mas nada impede que você use esse momento como pretexto para querer mudar. Tá liberado, desde que você mude. Todos precisamos mudar para que algo aconteça. Canalizar as energias para o que a vida pode trazer de bom é o segredo para que as coisas deem certo. Só não esqueça que quem coloca a carga na vida somos nós; portanto, só depende da gente o seu magnetismo e o seu peso. Das retrospectivas às iniciativas.

 

THIANE ÁVILA.

 

 

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