ColunistasCOLUNISTAS

Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Tem dias em que a gente cansa

29/8/2017 - Votorantim - SP

Creio não ser a única a, vez que outra, sentir um cansaço existencial. Uma preguiça das pessoas, um tédio sobre o mesmo. Parece que há certos momentos da vida em que simplesmente todas as células do corpo são trocadas e em que a percepção se torna tão pragmática quanto os cenários. É o momento em que os defeitos parecem eminentes e os gritos parecem efervescer pela liberdade.

 

Há noites em que toda a cerveja parece quente e que o corpo, sedento por música, parece com pesar de ir à pista para encontrar os mesmos corpos diferentes, ao passo que, a rigor, gostaria de provar novamente apenas um. Tem épocas em que todos os amores platônicos parecem equivaler ao único sentido de estar, como se um único beijo fizesse sentido. Como se um único olhar em meio à multidão, aquele que sempre acontece pelos lugares em comum que frequenta, pudesse satisfazer o cenário vazio dos ambientes cheios.

 

Mas o fato é que as palavras que aqui devaneio não têm a ver com desilusão amorosa ou com o drama de uma sapatão não correspondida. Hoje é mais. Hoje eu escrevo para as pessoas que, assim como eu, às vezes simplesmente enchem o saco das coisas. É um momento que passa, mas que, quando ainda está acontecendo, parece sentenciar os sentidos que atribuímos às coisas.

 

Essa noite, sentada no bar em meio a tanta gente que amo, senti vontade do meu jk apertado. Da minha solidão particular. Fiquei com a sensação de precisar encontrar algo perdido em mim, como se eu mesma, por desatenção, tivesse deixado em algum canto esquecido dos dias. A sensação de estar sozinha, de me sentir só. A companhia do meu silêncio foi algo que fui perdendo com os últimos relacionamentos. Algo que me consumiu sem que eu mesma me desse conta.

 

As coisas enchem o saco quando percebo a falta dos programas comigo mesma. Aprecio idas ao cinema inesperadas, em que a única condição é eu levantar, vestir uma roupa e sair para assistir ao filme que desejo. A projeção sobre a disponibilidade do outro sempre foi algo ao qual nunca me prendi. Minha mãe sempre diz que ninguém nunca espera por mim porque eu estou sempre pronta. Eis uma verdade. Preciso voltar a estar sempre pronta para mim.

 

A contemplação de uma bebida cara e de qualidade, aberta para uma noite de luar, com um vento suave de noite de verão. Uma taça à mesa e o maior combinado de sushi que possa haver no cardápio. Apreciando a vida ao olhar para mim e para quem eu fui, sou e ainda posso ser. Hoje, particularmente, voltei para a casa mais cedo e ofereci a mim um vinho que estava guardado para um momento especial com alguém especial. Descobri que o momento é agora e a pessoa sou eu.

 

THIANE ÁVILA.

Compartilhe no Whatsapp