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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Ainda há tanto de mim

9/7/2017 - Votorantim - SP

Ainda tanto de mim nas noites serenas
Nas manhãs de segunda-feira cinzentas
Nas rebeldias de insistências descompassadas
De noites amalgamadas
Adormecidas pela brisa leve de lembranças feitas para esquecer

 

Ainda há tanto de mim nessa janela aberta para rua
Calculando as desvirtudes de uma noite que surge limpa e nua
Retrucando a serenidade com lampejos de distração
Fazendo o ócio andar na contramão
A tirar o sossego a fortes golpes do esquecimento

 

Ainda há tanto de mim nas lacunas abastecidas
Nos preenchimentos de memórias vazias
Por vezes trocadas por alguém que não merece atenção
Que, por masoquismo, irrompe meu coração
Fantasiando de colorido a mais escura das expectativas

 

Ainda há tanto de mim na infantilidade reestabelecida
Nas lágrimas de choro ressequidas
Nas feridas que parecem não curar
De sentimentos que deixo em excesso abafar
Quando deveriam alçar voo rumo às plataformas do invisível

 

Ainda há tanto de mim nos roteiros mal escritos
Nas nuances de vidas sem repertório nem juízo
Em existências que deixei adormecerem no sereno da minha ânsia
Fazendo do amor minha egoísta bonança

Desperdiçada em pequenos goles de regresso frente ao que já foi vivido

 

Ainda há tanto de mim na temperança dos desolados
Na espera da presença do que já está fracassado
No sim de uma latência que nunca disse que era
Que na ausência a própria dormência reverbera
Confirmando a certeza de simplesmente não existir

 

Ainda há tanto de mim nas vontades de triunfo
Escondidas no assoalho de um amor negado e quase esdrúxulo
Sentenciado às bebedeiras intermináveis
Dos cigarros intragáveis
Mas que alimentam a arrogância de nunca terminar no fim.

 

THIANE ÁVILA.

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