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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Demonstra

11/7/2016 - Votorantim - SP

Gosto de quem faz barulho em mim. De quem desabotoa, destrincha, escancara. Amo as sutilezas que gritam, a vontade que não controla e a euforia pelo detalhe. Gosto de contar as horas pra ver, de clichês amarrotados e de velhas esperanças no copo de cerveja. Gosto de lembrar histórias, de quem deixa bilhetes e de quem escreve o próprio medo.

Admiro quem chega querendo ficar, mesmo não tendo certeza sobre tudo. Sorrio pra quem desmascara as dúvidas, infla o peito e age como quem ama. Sem poupar com joguetes, sem camuflar o sim em meias medidas e talvezes perdidos em desinteresse enrustido. Gosto de quem pisa no escuro, abre a janela pra entrada do vento forte e ainda coloca o rosto na rua. Quem sente a vibração do sentimento, provando, no tato, o tremor de quem não se intimida por se entregar. Gosto de quem se aprofunda sem saber o fim, contando, em vida, os minutos de permanência.

Procuro dar as mãos a quem aposta na própria descrença, em quem emancipa os defeitos em tentativa de uma nova chance. Não me importo com quem grita meu nome, com quem vence o cansaço apenas pra dizer o que precisa ser dito. Convalesço com as existências que não se amparam em desculpas, que não esperam. Gosto da decisão em forma de poesia, da vontade transfigurada em sonho e do roteiro promovido à ação. Amo as músicas que fazem lembrar, os textos com dedicatória e as situações mais desimportantes recordadas. Romantizadas. Unificadas. Singularizadas.

Gosto de quem tumultua o conforto do comodismo. De quem não tem preguiça em dosar as palavras ou refletir sobre o próprio jeito de dizê-las pelo cuidado em ser fiel o suficiente com os sentimentos. Com a sensibilidade do outro. Gosto da sinceridade gentil, da transparência que reflete e da verdade no olhar de quem não teme em demonstrar. A expressão do que se sente é proporcional à segurança sobre as próprias apostas. Esconder o jogo é esconder a face, o jeito, a possibilidade.

Inventamos problemas aos clichês pra não admitir a relevância do real na história que se romantiza. Na ação que se repete. Abrir o peito é emergir ao personificar o sentimento, adubando, dia a dia, a capacidade de se fazer feliz ao se atirar. Esfacelando-se pela queda ou encontrando o repouso, merecemos a adrenalina de não se poupar. O mal do século é a subjugação da entrega. Entrega-se apenas quem é muito seguro sobre si mesmo.

 

THIANE ÁVILA,

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