ColunistasCOLUNISTAS

Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Plano máquina do tempo

15/5/2016 - Votorantim - SP

O plano econômico da nova política que tratará do Brasil daqui pra frente corresponde à meta dos já atingidos. Visa aos já visados. Seleciona os selecionados. Abraça os que já estão aconchegados. Na política do nosso novo Brasil, reafirmaremos as classes que se subsidiam autonomamente. Confirmaremos a riqueza dos que não precisam se preocupar com dinheiro por boas e confortáveis gerações.

Nosso projeto, hoje, contempla a esperança desassistida. A boçalidade de uma promessa feita aos que já desfrutam do seu fruto em demasia. Distribuição ainda mais caprichada aos bolsos transbordantes, em paradoxo direto com o trabalhador. Aqui, vemos fundos já esgotados canalizando esforços ao abastecimento dos cofres emancipados pela corrupção. Uma legitimação, pois, guarnecida de uma justiça feita pelo seu descumprimento. Líderes que desconectam a elucidação da metalinguagem na definição da palavra. Conceitos desligados de signos criados para sua própria representação. A inversão passou a imperar.

No novo plano, a misoginia já mostrou a que veio. Querem transformar, outra vez, as mulheres em cenário, em pano de fundo, em troféu. Querem estilizar-nos ao ponto de voltarmos a usar as roupas recatadas que a indústria se preocupa em disseminar para aquelas que, afinal de contas, se dão ao respeito. Violência sexista é consequência de mulher que não se dá ao respeito. Hierarquia social? Não, muito pior. Estamos falando de subjugação de gênero. Aqui, trata-se da eleição de uma proeminência legítima. De uma só capacidade de trazer a ordem às coisas novamente. Será um Dejà vu?

Agora, mais do que nunca, vislumbraremos o alastro religioso nas manifestações sobre as ideias que determinam os ideais. Nesse momento, a cada final de frase, um amém em país laico. A corrupção, a lavagem e o descaramento foram, definitivamente, postos nas mãos de Deus. Eis a solução dos nossos problemas. Autarquia dos valores embrionários de uma nação que engatinha rumo ao próprio abismo. Por trás do discurso da fé, o interesse único em ver um povo acomodado. Não pensar, aqui, é a solução para a inércia. Não reagir, aqui, faz parte do jogo cujas armas são de choque. De intenção suja e fraudulenta.

Mas, pensemos, por um instante, de forma otimista. Parece-me, diante dos últimos acontecimentos, que, finalmente, descobrimos a fórmula da máquina do tempo. Parece razoável, pois, acreditar que voltamos, pelo menos, quarenta décadas no tempo. Na rua, é possível vislumbrar o mesmo sistema reacionário que impulsiona a polícia. Na política, é possível escutar os mesmos discursos progressistas. Nos estudantes, a mesma sede de luta. Na liberdade, o mesmo retrocesso de expressão. Nos peitos dos entendidos e avisados, o mesmo sentimento de despertencimento. Nos olhos de quem vê e quer ver, a mesma tristeza pela falta de representatividade. Mas, por fim, e mais importante, nos corpos e na determinação, o mesmo entendimento de outrora: a vontade de lutar e a sede por justiça.

 

THIANE ÁVILA.

Compartilhe no Whatsapp