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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Desprezo pela desvalia

2/4/2016 - Votorantim - SP

A cada nova brecha que encontro dentro da noção de valor, inauguro, em meus princípios, a emergência pelo afago. A carência bruta do sentimento empático, o mesmo que dá esperança às consternações e que motiva a crença nos propósitos. Cada existência torta, é verdade, estremece a expectativa frente a um espírito altruísta de verdade e consolo. A cada encontro infeliz, transcrevo em pensamento a tradução de um código minimalista de ódio que subjuga a pureza de simplesmente querer bem. Mas é que nós só podemos oferecer aquilo de que somos formados e que temos em abundância. Acumula sujeira aquele que se faz digno de ser receptáculo de uma.

Em um recanto tímido de uma aura ainda infantil, receio o que vem do que desconheço. Ou pior, do que achava que conhecia. É fato comprovado a incerteza mesmo na intimidade. A contingência dos extremos em tempos iguais, a alternância de rodeios no pretexto da calmaria eminente. Não há, pois, senão indícios e suposições. De certezas, somos iludidos a ser formados. De dúvidas, somos regozijados a amanhecer.

Às vezes, é certo, dimensionamos as decepções como quem não está apenas retornando a sentimentos. Como quem, um dia, não foi esculachado pela beleza do que sentia. Os meios jamais justificarão os fins; o contrário, no entanto, é bem possível que sim. Triste reconhecer que um ato compra o outro, que um desacerto subjuga uma vida. A hipocrisia de tentar em eterno despropósito, quando já se sabe que de nada adianta quando as vendas nos olhos são equilibradas pelas próprias mãos de quem as tem. Pela própria vontade de quem as liquida em cegueira e anarquismo.

Na escuta de verdades inventadas, é possível conhecer mais quem as reproduz como certas do que de fato quem as originou. É possível, pois, identificar o quanto uma impressão pode ser errônea ao ser estabelecida em bases inexistentes, reais apenas na imaginação. Sustentadas apenas pela inocência. Procura-se por defesa quando a energia despendida vale a pena. Do contrário, é preferível transformar em boas energias a retórica, respondendo com positividade o que vem da incapacidade de enxergar com lentes distintas. Os olhos, pois, são domesticados e treinados pelas formações internas. Não adianta narrar outra perspectiva a quem é estagnado unicamente às suas verdades.

Hoje mesmo, acordei com a vontade de não me importar. De jogar ao vento minhas expectativas frustradas, dando voz apenas ao que se faz matéria e energia direcionada em minhas vivências. O desgaste liquidado em prol do outro é inútil quando os interesses não convergem. Quando as vontades não se casam em intencionalidades de bom coração. Limpo, pois, meus sentimentos a cada novo tapa que levo. Somos perspicácia tomada de corpo. Usemos com sabedoria a habilidade de preservar quem nos agrega e descartar, sob o espectro de luz, quem serve apenas para julgar e colocar-nos em posição inferior. Sejamos equivalência e não prepotência.

 

THIANE ÁVILA.

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