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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Um mais um nem sempre é dois

12/1/2016 - Votorantim - SP

Viver sob alguns clichês não me parece ser uma má ideia. Mediante as injúrias de uma vida com frescuras, amanheço permanentemente à mercê da sorte de um amor tranquilo. Um vento que acaricie o rosto. Um bom dia que inaugure, nem que seja na mente, a vontade de merecer algo a mais. A busca, pois, de uma noção subentendida por entre as próprias confusões mentais. A metafísica incubada num quê de amor e ódio. Numa necessidade proeminente de uma dor mansa. De um calor fresco.

Numa matemática meramente ilustrativa, é correto afirmar que um mais um nem sempre é dois. Os românticos de plantão diriam que quando duas pessoas se amam, é certo que a soma resulta em um. Um corpo. Uma alma. Uma vida compartilhada. Devaneios à parte, a rotina de procurar o molde perfeito pra enquadrar uma pintura pronta é besteira. Nem o molde nem a pintura. Os dois juntos. Um pensado pro outro. Os dois imaginados pra si.

Às vezes penso que o sentido do tudo seja justamente o nada. A sorte de um amor sossegado talvez seja a delinquência de uma loucura sã. Ou a serenidade de um tufão em calmaria de berço. A birra incontrolável de quem quer apenas mais um gole paz. A pressa por reclusão faz-se o paradoxo perfeito pro mar em terra firme. O antagonismo completa. A falsidade ratifica. Não há como completar-se em dois. Assim como não é comum ser um em duas vidas. O amor talvez seja então tão tentador pelo fato de não respeitar a física. A letargia de saber mais do que presume saber em sua santa ignorância. Não se admite a informação pelo prazer de ser sábio. Um silêncio extorquido dos gritos que clamam por significado. Que desejam o enlace dos dedos perfeitos nas mãos. A compreensão escondida sobre o vazio que não se preenche sozinho. Erro do século.

É repetitivo falar de amor verdadeiro. É um clichê. Mas então volto a afirmar que gosto de clichês. Flores ao pé da cama. Mensagem de bom dia. Abraço apertado e beijo com mordida. As provas sutis de consideração e, de alguma forma, de merecimento sem a exigência de pagamento. O fazer por querer. O querer por precisar. E o precisar por querer fazer. O organograma desorganizado de uma ordem que nunca é quebrada. Sabemos, por nascença, o que deve vir primeiro.

Na inauguração do ócio de estar apenas ao lado, confirmo no clichê dos pés entrelaçados a maior felicidade de uma soma de um mais um que resulta em um. São dois sorrisos que se confundem. Duas mãos que se embaralham. Duas respirações que se misturam. O um é explicado pela consonância dos cheiros. As risadas cantam juntas, no mesmo tom e na mesma nota, uma felicidade só. Uma vontade só. Duas vidas que percorrem um único trajeto. Talvez seja isso.

 

THIANE ÁVILA.

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