Autor: Thiane Ávila
De todos os sonhos que tive, os que tenho hoje são os mais tolos e imbecis. É difícil entender um nada que insiste em cutucar a vontade incessante de fazer. Talvez seja uma busca por um vazio não preenchido, ou um preenchimento que existe sem tapar lacunas.
É engraçado o quanto se precisa procurar o achado. Abraçar o errado. Acariciar o declínio. Trata-se talvez de um masoquismo inerente à felicidade, uma ameaça de lucidez que embreaga a própria sorte frente ao óbvio. A razão, definitivamente, trabalha em descompasso com a impulsividade e a teimosia de tentar. Quem tenta muito não pensa. Comprovado.
A vontade de querer perto ou de estar perto, mesmo que equivalha a um afago a um cactos ou a um beijo em erva daninha, parece tentador. O pôr à prova tudo o que já se sabe é o antídoto do próprio veneno. Quebrar a cara ou algo mais sério pra que se desconstrua o que precisa ser desconstruído. Dar-se conta, depois da milésima tentativa, que o querer quase nunca basta.
E a gente corre atrás. Busca a vitalidade em goles alcoólatras de falta de senso e de noção. A presunção importante que nos invade e faz agir sobre um intuito que não se criou ainda, mas que busca em doses homeopáticas o sentido da própria impulsividade. Um paradoxo completamente lógico que nos impele a agir sobre o desconhecido e fazê-lo o amor de nossas vidas.
Nessa tsunami de inconstâncias e agitação, pego-me a pensar vez que outra sobre merecimento. O meu e o de quem me ofereço. Hoje está estritamente proibido, no meu interior, pensar sobre mérito. O agir sobre o outro, pra ser categórico e de valor, deve respeitar a dinâmica da reciprocidade espontânea. Expectativa zero. Amar em silêncio? Talvez.
E assim toda a responsabilidade sobre o meu sofrimento recai inteiramente sobre mim. Cada lágrima e queda são somente da minha conta. Não culpo ninguém. Não atribuo nada a outra pessoa senão a mim mesma. Sou, pois, a única capaz de vulnerabilizar minhas próprias emoções. Essa coisa de ser marionete nada mais é do que uma forma de perceber a si mesmo. Entregar-se não é deixar de ser, mas intensificar um sentir que, sozinho, não é possível que exista.
THIANE ÁVILA.