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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Viver é sempre mais

6/10/2015 - Votorantim - SP

Viver ultrapassa o superar e o querer. Viver perpassa as barreiras do real e, de fato, possui a capacidade de criar planos paralelos e individuais. O mundo é um sensacionismo protagoriano, um relativismo que estremece as fronteiras entre o ser e o não poder ser.

Durante boa parte da vida, estamos preocupados em superar angústias, medos e decepções. Acariciar os bons momentos na esperança de que se solidarizem e voltem. Numa tentativa ensandecida de voltar no tempo para refazê-lo. A existência, pois, não passa de um aprender a lidar, que também não topa com o conformismo. Somos a dinamicidade à procura da paz e da segurança. Nossa maior aventura é buscar equilíbrio numa trilha de montanha-russa. E essa será sempre a graça.

Não acredito que seja possível superar a vida. Acho, inclusive, triste quem a supera. Quem preocupa-se em tapar cicatrizes, em amaldiçoar o passado. Querer ver-se livre do ontem é, contrariamente, vivê-lo para sempre no hoje e no amanhã, pois, ainda que nos esforcemos em esquecê-lo, só o fazemos ao lembrar que a lembrança deve ser apagada e, assim, continuamos a vivê-la. Sem superá-la e sem saber lidar com ela. Fantasma engaiolado decidido a nunca mais parar de atormentar.

Nos mundos particulares que construímos, a dinâmica é basicamente a mesma. Na tentativa de desvencilhar meus pensamentos suicidas, busco no sentido que a vida me traz a maior consequência por querer continuar. Em meio aos tormentos de uma catástrofe na minha escala mundial, vasculho por entre os meus a bonança de um dia de sol e de um abraço. A inaugurar sempre uma realidade nova, nada dissociada da outra, mas paralelamente feliz e destoante. Tratando-se, pois, tão somente da lida que encontrei para não me afundar na agonia de ter que conviver comigo mesma diariamente.

Não ser quem se quer é uma desculpa para não realizar o que se deseja. A bengala da rotina está firmemente apoiada nos desvelos de quem se acha menor pela desistência do passo seguinte. Não se sabe lidar com o patamar mais baixo e, ao invés disso, procura-se concentrar as forças na dificuldade de subir. Somos energia sísmica em forma de corpo. Somos potência em forma de razão e vontade transmutada em lágrima e gargalhada.

O futuro não é objeto de sensação, mas de pensamento. Nosso maior erro talvez seja o de querer poupar as dores, adorando as anestesias ao invés das sensações. Anestesiar-se é dizer não aos resvalos e às quedas. Ao sofrimento e à derrota. É quando falta eu em mim mesma. É quando falta vontade não de curar, mas de aprender a conviver.

Não é sempre que as portas se abrem. Não é sempre que o amor chega fácil. Mas não é conformando-se com isso que se deve deixar de insistir. Para sempre vou cumprir minha promessa de amar aquela para quem jurei estar do lado em todos os momentos. Não quero superar suas quedas, mas aprender a lidar com elas para me fazer suporte, cada vez mais firme e preparado.

Viver é sempre mais. O que falta talvez seja dar-se conta de que a espera é antídoto e veneno. Não queiramos esperar o adeus para dizer que queremos ficar. Amando a sutileza de cada olhar, damo-nos conta de que a vida não é um jogo para remediações, mas uma grande oportunidade para dar e ser sentido em, no mínimo, duas existências.

 

THIANE ÁVILA.

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