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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

A vastidão de um idiota

14/7/2015 - Votorantim - SP

 

Talvez não se nasça idiota. Talvez a carga do termo soe tão pejorativa a ponto de desenquadrar virtudes. Que a compreensão do ser maior se perca dentre a infinidade que não cessa em sua superficialidade. Que não destoa o cinza melancólico por entre as flores. Do amarelo cor-de-sede para a vida que se receia viver.

Aprender a ser idiota com a inocência dos primeiros passos. Mesclando tombos e risadas. Andarilhando por entre a imensidão do perigo como quem acaricia uma seda macia, sem ver que por trás o abismo espera pelo descuido. A fera remonta em cordões de tecido o emaranhado que há pouco fazia todo o sentido.

Sem ser o centro para comutar com as periferias retardantes. Com os acasos imundos de certa previsibilidade, que hoje nunca se isenta do saber-de-tudo que coloca graça em nada. Que desabrocha no lugar da flor o documento que descreve a botânica. O ar escrito em fórmula química ao invés de sorriso.

A idiotice talvez seja a mais grave das enfermidades: aquela que o enfermo não sofre. Que tampouco sente. A letargia desregrada de uma desventura a um fio de ser completamente livre. De passos desvairados a um nada veementemente conhecido pela imaginação. Ferozmente desbravado pelo cheiro que faz nascer de resquícios que formam partes com poder de todo. O arredor que se entristece. Os passantes sempre se preocupam.

Certas vezes, então, me preservo, para logo voltar a suicidar as ideias. Atar fogo no sentido de querer pensar muito sobre tudo, enxergando lógica onde só há acaso. Encontrando respostas onde só se multiplicam perguntas. Perguntas quase infantis de tão retóricas. Tão superficiais por serem tão profundas. A resposta que não existe, mas que motiva a continuar. Somos, pois, a mais paradoxal das espécies. A mais imbecil das raças.

Estou tão cansado para dizer que vou embora. Tão fadado ao desencontro para procurar brechas de mãos. Afagos de assopros outonais. A despedida é a idiotice mais bem orquestrada de todos os tempos, que carrega consigo a sutileza de uma fresta buscando a data da volta, e levando, ao mesmo tempo, a certeza de um ‘nunca mais’ retocado. Inaugurado num instante que se espera que volte.

A existência é mesmo uma idiotice vasta. Um plasmar de ironia segmentada, em que o idiota acredita que todos são idiotas, menos ele. Que a beleza e a graça por debaixo da saia são óbvias, quando, ao contrário, não haveria curiosidade com a nudez normalizada. Com a idiotice padronizada a um sim social. A uma situação de aceitabilidade que tiraria sua graça e sua permanência enquanto falta de sentido aos que anseiam viver algo de verdadeiro nesse hiato da existência.

 

THIANE ÁVILA.

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