ColunistasCOLUNISTAS

Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

No fundo, somos todos hipócritas

2/5/2015 - Votorantim - SP

A hipocrisia personificada é a face de cada um, compactuando com as histórias mal contadas enquanto constrói nos dedos os direitos de humanidade. Somos a brecha rasteira das verdades superficiais a enaltecer os menos favorecidos ao mesmo tempo em que aplaudimos o dinheiro dos holofotes.

Importância seja admitida às caras bem lavadas e aos ornamentos sincrônicos, dando sugestividade aos corpos bem nutridos e acariciados com pelúcia e conforto. A longevidade dos discursos sacros é tão potente quanto a migalha que vira motivo de guerra. O farelo que dá vida à maioria.

Uma câmera é capaz de fantasiar os olhos, umedecendo as pálpebras e gerenciando um comando maquinário de humanismo. O que está errado é o conceito do que é ser humano e não o contrário.

É um abismo de cores e ornamentos a passar pelas ruas, carregados pelo vento da miséria. Despercebida, a catástrofe é o motivo de cintilância das criaturas. Sim, todos comemos o pão que o diabo amassou. Vivemos dele, aliás.

O moralismo de apontar os erros e cometê-los em proporções colossais. O vanguardismo de recrimar o crime pela fome. A pretensão de armar de vento aquele que recebe em balas. Grande hierarquia das virtudes subalternas, ó grande terreno diluviado de constatações podres pela demasia de tentativas límpidas.

Não se procura a razão em solo infértil. O discurso hermenêutico é apenas acadêmico. Pouco preocupa-se em falar o sedento que deseja ocupar o espaço da boca com o que realmente a preencha.

Veja que pagamos pela escravidão. Usufruímos das rebeldias da violência enquanto beliscamos alimento servil diante da mídia massiva. Tapamo-nos com a seda feita de sangue à noite, ensinando a criança, ao despedir-se, a oração pelos miseráveis.

E a chacina da mortandade nas vilas respeitadas e entupidas de boa gente é o anacronismo da história do mundo. A culpa é das crianças nascidas no tempo errado, da cultura emergida de um erro de interpretação. O acerto está a uma palavra de distância e a um infinito de ser autêntico.

Somos todos romancistas da moral e dos bons costumes. Gaiolas bem trancadas de conhecimento profético, a um conhecimento de nossa opinião para se fazerem revolucionárias.

O bem é apenas a ausência de mal. No final das contas, o antídoto é a falta de existência. Benfeitor é o invisível de costas. A constelação desestrelada das loucuras sãs. Um apaziguamento sempre doente do inevitável. A hipocrisia é, no final das contas, a normalidade.

 

THIANE ÁVILA.

Compartilhe no Whatsapp